A dignidade não aceita autopiedade.
Ter dignidade é um exercício que devemos desenvolver individualmente e coletivamente.
Uma amiga da família morreu essa semana de câncer, mas deixou uma lição que quero compartilhar. Minha mãe me mostrou o vídeo que ela fez para se despedir dos amigos. Ela sabia que seus dias aqui na Terra estavam chegando ao fim. E, com um respeito ímpar, se arrumou, passou o batom vermelho que ela tanto gostava, colocou os brincos e deu um belo exemplo de como morrer de forma digna e respeitosa. Ela contou dos anos que desempenhou de forma íntegra, na medicina, quando o câncer apareceu, de como encerrou a sua carreira - fechando o consultório quando a doença voltou pela segunda vez, dos seus frutos, dos amigos, que fez tudo que queria e listou algumas delas como quando pulou de paraquedas - e ainda disse ‘sem arrependimentos’, e nesses últimos meses em casa ensinava os outros suas receitas de culinária. Em quase seis minutos de vídeo ela deu ‘receitas’ de amizades, gratidão, vida e de como morrer com elegância. Em nenhum momento a lágrima caiu, a gratidão pela vida, mesmo com um fim doloroso, era algo visível. A sabedoria que não acabaria quando o coração parasse de bater era única, e a honradez em terminar a vida terrena com a ‘cabeça erguida’ era brilhante. Que lição de vida linda.
Vi o quanto temos que desenvolver a dignidade em vida e quanto a falta dela está ligada a nossa autopiedade. Como gostamos de valorizar a nossa dor, e com isso o ‘degringolar’ é inevitável. Infelizmente, temos o hábito de colocar o sofrimento acima de tudo. Não estou dizendo que nossa dor e a dos outros não devem ser valorizadas, mas disso virar nossa ‘marca registrada’ é uma escolha individual. E mais, deixar de passar isso para as próximas gerações é um dever coletivo. Vivemos em um mundo de ‘coitados’, ‘injustiçados’, e isso independe se a pessoa vive ou não no primeiro mundo, se é rico ou pobre. A, maioria das pessoas, além de enaltecer suas lutas e dores, gostam de ver as desgraças dos outros. Veja a quantidade de programas de fofocas, notícias e fotos de acidentes que veiculam em redes sociais.
Dignidade é ter atributo moral, conhecimento, se orgulhar e celebrar - de forma decente, sábia e íntegra, mesmo com dor, problemas e sofrimentos, quem se é. Ter respeito e carinho por quem D’us fez - seja você ou qualquer pessoa, e saber que estamos aqui como um presente, de passagem. A dignidade não aceita a autopiedade, ela sabe que isso é uma mentira que tenta nos ludibriar. Ser digno traz consigo o dom de fazer escolhas inteligentes onde o outro também está incluído e não lhe dá o direito de ser desrespeitoso, ofensivo, desprezível com o próximo como ‘resposta’ do erro do outro. O digno entende que a dignidade dele é uma fonte de vida para ele e todos que estão ao redor. Isso é transcender.
Comentários
Postar um comentário