Volta às aulas. Saiba o seu lugar.

Depois de um mês de pausa, a vida escolar recomeça. Mas será que algo muda? Pelo menos, deveria.

A vida escolar não é desafiadora apenas para os alunos, mas também para os pais. Assim como cada estudante precisa se adaptar às suas necessidades e responsabilidades, com os pais não é diferente. Porém, num mundo tão invertido e bagunçado em seus valores — onde ninguém parece saber mais o seu lugar —, a escola não sairia ilesa.

Primeiro, é preciso deixar algo claro: seu filho não é o porta-voz oficial da escola. Isso significa que você não deve levar ao pé da letra tudo o que ele diz. Dê o desconto da idade, da imaturidade — é claro que há casos e casos, especialmente quando falamos de abusos, que precisam ser levados muito a sério. Mas aqui me refiro às frases clássicas: “o professor não deu a matéria”, “o professor não ensina nada”, e por aí vai.

Todos sabemos que estudar só um dia antes da prova não dá certo. Às vezes até funciona, mas a escola não é apenas sobre tirar nota: é um campo de treino para a vida em sociedade. O que isso significa? Que ali ele aprende a conviver, a se frustrar, a ter responsabilidades. E se você, como pai ou mãe, tenta blindá-lo disso, está tirando dele a oportunidade de crescer.

Sim, é profundamente educativo perceber que a estratégia que funcionava no ano passado (ou no início deste ano) pode não funcionar mais. E assim é a vida: estamos sempre sendo chamados a nos aprimorar. Portanto, não alivie tudo para o seu filho. Não ceda ao primeiro choro. Se ele estudou e foi mal na prova, talvez a estratégia tenha sido falha — e isso não é motivo de desespero, é um convite à mudança. Ensine-o a se responsabilizar pelos próprios resultados.

         Não repita que tem 'lição demais', se talvez essa seja a única obrigação que ele tem. Talvez o problema esteja na agenda dele, que está priorizando outras coisas. E, por favor, não vá brigar com a escola dizendo que 'está difícil demais', sendo que ele tem recursos, capacidade e inteligência para lidar com aquilo.

         Frustrações são essenciais para o crescimento. Não se sinta culpado se ele estiver frustrado — ele vai se frustrar muitas vezes na vida, e precisará saber lidar com isso. Não crie um 'gatinho de apartamento', daqueles que têm as unhas arrancadas para não arranhar os móveis. Deixe-o se virar.

          Saiba o seu lugar. Se ele se sente injustiçado, ensine-o a buscar justiça com respeito. Não compre a briga de adolescente — isso, além de ridículo, é invasivo. A menos que haja abuso, saia do espaço que é dele e permita que ele aprenda. Demonstre respeito pelos professores. Lembre-se: hoje é o professor, amanhã será o chefe.

Saiba se portar nos grupos de WhatsApp. Aquele não é um espaço de catarse, e acredite: seu filho provavelmente lê tudo escondido. Seja um exemplo. Mostre que na vida a gente corre atrás do que quer — e por isso, precisa estudar ou fazer coisas chatas. Faz parte.

Portanto, não eduque seu filho com a mediocridade do lema “só quero que ele seja feliz”. Essa é a receita perfeita para criar um inútil, que só faz o que quer — e, nesta vida, isso simplesmente não será possível. Quem sabe na próxima. Mostre que ele precisa ser funcional, respeitoso, esforçado. Seja pai e mãe — não amigo. A amizade, com sorte, virá na fase adulta. Agora é hora de ocupar o lugar de responsáveis, e fazer a nossa parte — mesmo quando ela é difícil ou chata.

Exija do seu filho o que é obrigação dele entregar. Claro: cada um tem seu ritmo, seus limites, e a forma como se fala faz toda a diferença. Mas não seja omisso. Faça seu trabalho.

Que essa volta às aulas seja de amadurecimento, aprendizado e retomada daquilo que ficou de lado. Que sejamos gratos pela oportunidade de recomeçar, fazendo o que precisa ser feito. E lembre-se: quando estamos no nosso papel, a vida flui. Porque saímos de onde não é nosso lugar e permitimos que os filhos cresçam. E nós também crescemos. Afinal, somos tão importantes quanto eles.

Que cada um colha a sua parte da colheita.


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