Eu não sei como a gente vai se entender



Fala-se muito sobre empatia, mas, quando o bicho pega, o que vale é só o meu ponto de vista.

É interessante observar como cada um de nós se comporta em situações de estresse, ameaça, confronto ou até mesmo em momentos de diversão. Mas o que tem se tornado cada vez mais evidente é a cegueira que acomete as pessoas quando tomam um lado da história. Escolhem um partido, uma bandeira, e se recusam a enxergar qualquer erro ali — como se reconhecer falhas significasse traição.

Claro que todos temos valores e convicções, mas isso não deveria nos impedir de vê-los com senso crítico. Pelo contrário, é justamente ao reconhecer os defeitos do que acreditamos que conseguimos melhorar. Mas não é sobre isso que estou falando. Falo da infantilidade, da birra emocional, da idolatria ideológica que toma conta do mundo.

Vemos adultos agindo como crianças. Na política, por exemplo, gente que defende absurdos só porque tem pavor do ‘outro lado’. Gente da extrema-esquerda e da extrema-direita se comportando com a mesma irracionalidade. Feministas que passam pano para o regime do Irã — que mata mulheres por deixarem o cabelo à mostra — só porque odeiam Israel. Gays defendendo grupos terroristas porque não gostam de judeus. Pais que, ‘por amor ao filho’, transformam uma advertência escolar em um escândalo. O mundo virou uma criança birrenta, jogada no chão do mercado, gritando porque não teve o que queria.

Com isso, ninguém mais se entende. E, pior: ninguém quer entender.

Vivemos numa sociedade onde pais mandam na escola, ‘ativistas’ atravessam o oceano para ‘salvar o mundo’ enquanto ignoram a dor do vizinho. Perdemos a noção do quão ridículos estamos. Nos tornamos especialistas em exigir do outro o que não praticamos nem dentro de casa. Gente que sonha com a educação dos filhos, mas não sabe ser educada com o próximo.

Empatia virou fobia. Se colocar no lugar do outro exige um esforço que a preguiça intelectual não permite. É mais fácil desejar a morte de quem pensa diferente — mesmo que isso contradiga tudo o que você diz defender — do que buscar coerência.

Vivemos em bolhas incoerentes, onde o discurso não se conecta com a prática. E enquanto continuarmos assim, seguiremos nos destruindo — com palavras, que podem ser mais nocivas que armas. Ninguém sai vencedor nesse cenário. Não vamos ‘salvar o mundo’ enquanto não aprendermos a curar a nós mesmos. Afinal, ninguém dá o que não tem.

Estamos na UTI. Que essa experiência nos transforme e faça valer essa nova chance, a cada dia, de viver.


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