A Maternidade de Mentira: O que os Bebês Reborn Revelam Sobre Nós
Essa é mais uma febre que expõe como estamos adoecidos enquanto sociedade.
Chove bonecos que parecem bebês de verdade. No meu Reels do Instagram, apareceu um vídeo de uma mulher que levou seu “bebê” ao hospital porque estava com “febre”. Imagino a cena de um médico se recusando a examinar uma boneca, e a mãe ameaçando processá-lo. Claro, depois de ver esse vídeo, o algoritmo passou a me mostrar uma sequência dessas bizarrices. Em outro vídeo, mães de bebês reborn se reuniam no Parque Ibirapuera com carrinhos de bebê, promovendo encontros, festas de aniversário, entre outras cenas surreais. Como se não bastasse, uma reportagem do Fantástico escancarou o que já sabemos: o mundo está doente!
Entre pessoas que contratam babás para cuidar dos bonecos, o que mais me chama atenção são essas "mães" fingindo culpa, estresse e cansaço com a rotina materna. Loucuras e exageros à parte — sim, porque, tirando a função lúdica da boneca e seu uso terapêutico legítimo —, o que realmente me inquieta é a caricatura da maternidade que isso representa.
Isso me faz pensar: por que precisamos seguir esse roteiro caricato da maternidade? Inconscientemente, carregamos fardos que não fazem sentido para muitas mulheres — e para muitos de nós. Se a maternidade é uma experiência única e exclusiva para cada pessoa, por que ainda nos transformamos em personagens onde culpa e sofrimento são ferramentas essenciais?
Por que não podemos ser mães (ou pais) em que o amor e o respeito comecem por nós mesmos, para só depois chegarem aos filhos? A frase “Amar ao próximo como a ti mesmo” nos dá uma pista: é impossível amar o outro sem antes nos amarmos. É até bonito mostrar toda a “sofrência” por um filho, mas também pode ser mentiroso. Afinal, ninguém pode dar o que não tem. Simples assim.
Claro que a maternidade (e a paternidade) nos coloca em contato com sentimentos intensos e inimagináveis. Isso é essencial para atravessar as exigências da vida com filhos. Mas não posso me abandonar nesse processo — ou a amargura logo me lembrará que algo está fora do lugar.
Quando vejo essa febre dos bebês reborn, vejo pessoas que se esqueceram de se amar, de entender o que é amor de verdade. Esqueceram que brincar é bom, mas que o papel do brinquedo é justamente nos desconectar da realidade — e não nos aprisionar em uma fantasia doentia. Quando bonecos são tratados como gente, isso é um sinal claro: a sociedade está gritando por ajuda.
Estamos diante de valores distorcidos, de crenças doentias, de pessoas vivendo personagens ao invés de sua própria vida. Precisamos voltar à essência, romper com caricaturas e ter coragem de ser quem realmente somos. A vida exige posturas responsáveis — não podemos fazer o que quisermos sem considerar as consequências. Isso é imaturidade, é regressão.
Que possamos, então, evoluir diariamente. Que sejamos quem realmente somos — sem caricaturas da maternidade, sem crenças familiares limitantes, sem modas absurdas. Que a gente pare de se convencer de que está tudo bem, quando claramente não está.
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